Bio
Por sua obra literária Luís Pimentel já recebeu inúmeros prêmios nacionais, como o Prêmio Jorge de Lima de Poesia, da União Brasileira de Escritores; Prêmio Cruz de Souza, da Fundação Catarinense de Cultura; Prêmio Literatura Para Todos (2007 e 2010), do Ministério da Educação e Cultura; e o Prêmio Nacional de Dramaturgia Cidade de Belo Horizonte, com uma peça teatral inspirada na vida e na obra do compositor Assis Valente. Baiano, de Feira de Santana, tem 62 anos e mora no Rio de Janeiro.
Luís Pimentel é jornalista, escritor, roteirista e dramaturgo. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas do Rio de Janeiro, e atualmente assina uma crônica semanal em O Dia. Tem mais de 50 livros publicados, entre contos, poesia, ficção infanto-juvenil, textos de humor e sobre personagens ou aspectos da música brasileira. Entre eles destacam-se As miudezas da velha, poesia (Myrrha), O matador de aluguel e outras figuras, crônicas (Melhoramentos), Um cometa cravado em tua coxa, contos (Record), O calcanhar da Memória, poesia (Bertrand), Com esses eu vou, crônicas e perfis da MPB (ZIT), Grande homem mais ou menos, contos (Bertrand), Entre sem bater, o humor na imprensa brasileira (Ediouro), Pau Brasil (Moderna), Plantio e colheita, poesia (Prumo), Dois dedos de poesia (Global), Neguinho aí, infantil (Pallas) e Cenas de cinema – conto em gotas (Myrrha).
Produção Literária
Poema Seco (12 dilemas)
1.
Seco.
O talo seco.
O osso rasga a carne
seca.
Do peito seco só esguicha
espinhos de macambira,
a salmoura da palma,
o suor do mandacaru.
Seca
a seiva, o sumo, o sol.
Seco o ventre, o vento é
seco.
Do chão explodem as cascas
da ferida.
Do céu respinga o último
suspiro.
2.
Sobre espinhos, sob o sol
o esqueleto marrom e ressecado
espicha-se
onde o tempo cravou
suas esporas.
A cabeça do boi
espetada na cerca
o couro do boi
estendido na paisagem
o olho do boi
lambido pela mosca insone.
O olho do menino assiste a tudo
e varre o cenário
onde o nada se impõe:
há desgraça bastante
para a longa noite de pesadelos.
3.
O menino vai até a cacimba
enganchado no lombo do jumento
entre os galões vazios
que voltarão cheios.
O menino retorna trotando
no rastro do animal
(que agora vem carregado)
os pés sobre espinhos
o espinho sob o sol
o céu ameaçando
com umas borras gigantes
que jamais se derretem.
Chuva só havia nos livros
mas livros ali não havia.
4.
Resiste a folha verde
do umbuzeiro
Resistem o caule e os espinhos
do mandacaru
a galinha que busca o milho
que não resiste
à terra seca
os ratos do mato
os filhotes de preás
e os cágados que comem
os próprios filhos
resiste a umburana
a bigorna
a pedra que quebra a unha
resiste uma gota de água
na reentrância do lajedo
como para mostrar que Deus
existe.
A vida é amarga e Deus ali
é apenas uma doce palavra.
5.
O mato come o rato
que enfrenta a fome
negra e feroz do gato
e as pedras, as esporas
os espinhos.
Seco
o rio, o olho da planta
o olho do boi
o olho d´água seco
como o rastro do riacho
esturricado
nem pedras nascem.
Nem talos, nem unhas
nem carrapatos.
Seco
o focinho do cão
e o olho da cobra.
Morto tudo o que um dia
ousou chamar-se vida
morta a vida, como as
Sementes e as Severinas.
6.
No alto mais alto
do umbuzeiro,
o filhote de gavião
contempla a mata
esturricada.
Um olho no cabrito
recém-nascido
– a redenção –
outro cega-se
pela fumaça
– a escuridão, a morte.
7.
A carne escapa do osso
que se desintegra.
O menino e sua sede
em direção ao infinito
vai montado num cabrito
buscar o mel da cacimba.
O menino, a sede, a seca
formando um só espantalho
braços abertos pro nada
entre o curral e a caatinga.
Onde a água nem respinga
Só se vê bicho enfezado.
8.
Formava um laço
o corpo do cachorro
curvado
sobre o espinhaço.
A pulga, o céu
o imponderável.
Focinho cheirando
espinhos
o pelo um pátio
para os carrapatos.
Dança a mosca
no olho do cão
faminta
que nem ele.
9.
O homem olha para o céu
que promete chuva
e promete às nuvens
que nunca mais vai blasfemar.
Nem desejar a morte
não desfazer do destino
dizer que põe na panela
o gato, o galo, o papagaio.
O homem, seco feito mentira
sabe que jamais poderá
pagar as promessas.
10.
Pergunta ao pai
ao filho
ao espírito santo
ao porco enlameado
ao cabrito esturricado
à primeira pedra
à última nuvem:
Por que me abandonaram?
11.
Lá está a cajazeira, o tempo, o mandacaru.
A casa ou o que restou dela, céu de lágrimas, olho nu,
lá está a derradeira imagem da fantasia;
onde o tempo, noite e dia, se perdia sem história.
Mora lá, punhal azul,
feito espinho na memória.
12.
O sol que ilumina é o mesmo que mata.
A chuva que aplaca a sede também nos encharca.
Os dias que vêm são os dias que passam.
A lua some quando a gente precisa.
Publicações
- Para adultos: Contos da vida absurda (Casarão do Verbo, 2014);
- Aconteceu na Lapa – Novela carioca em quadrinhos (Myrrha, 2014);
- O homem e seu cachorro – Teatro (Myrrha, 2013);
- O amor impossível do valente Assis – Teatro (Giostri, 2013);
- Almanaque Brasil de todas as copas (Mauad, 2013);
- Cenas de cinema – conto em gotas (Myrrha, 2011) PNBE Ensino Médio 2013;
- Noites de sábado e outras crônicas cariocas (Editora Leitura, 2007);
- Grande homem mais ou menos – contos (Bertrand Brasil, 2007; Fundação Catarinense de Cultura, Prêmio Cruz e Souza 2002);
- Declarações de humor (textos humorísticos, Fivestar, 2006. 1a edição: Ed. Gavião, 1994);
- Com esses eu vou – de A a Z, crônicas e perfis da MPB (Editora ZIT, 2006);
- Contos escolhidos (Fundação Cultural da Bahia, 2006);
- Cabelos molhados (Contos. Ministério da Educação e Cultura, 2006);
- Entre sem bater – Humor na imprensa, do Barão de Itararé ao Pasquim21 (Ediouro, 2004);
- O calcanhar da memória – Poesia (Bertrand Brasil, 2004);
- Um cometa cravado em tua coxa – contos (Editora Record, 2003);
- As miudezas da velha (Prêmio Jorge de Lima de Poesia, Ed. Clima, 1990. 2o Edição: Myrrha, 2003);
- Wilson Batista – Na corda bamba do samba (com L. F. Vieira, Relume Dumará/RioArte, coleção Perfis do Rio, 1996);
- Geraldo Pereira – Um escurinho direitinho (com L. F. Vieira e Suetônio Valença, Relume Dumará/Funarte, 1994);
- Aquele beijo que eu te dei (contos e crônicas, Ed. Antares, 1985).
- Para o público infanto-juvenil: As muitas notas da música brasileira (Moderna, 2015);
- Bié conhece a Fazenda (Bié e a grande viagem, Ao Livro Técnico, 1992; Alfaguara 2015);
- 10 brasileiros nota 10 (Moderna, 2014);
- Dois carinhos se procuram (Fino Traço, 2014);
- O meu lugar nas quatro linhas (Moderna, 2014);
- Um menino chamado Asterisco (Globo, 1985; José Olympio, 1993; Rovelle, 2014);
- Neguinho brasileiro (Pallas, 2014);
- Primeiro de abril (Dimensão, 2014);
- Um show de bola (Duna Dueto, 2014);
- O gandula que comeu a bola (Dimensão, 2014);
- Moleque Zizé com a bola no pé (Fino Traço, 2014);
- A menina e os caminhos (Editora de Cultura, 2013);
- Um menino bem desenhado (Myrrha, 2013);
- João Sabichão (Oito e Meio, 2013);
- Usando a cabeça (Formato, 2012);
- Mundim perdido no mundão (Melhoramentos, 2012);
- Assim que a banda toca (Roda e Cia. 2012);
- Santos desde menino (Mauad, 2012);
- Felicidade foi embora (Prumo, 2012);
- A dança das cores (Fundação Dorina Nowil para Cegos, 2012);
- São Paulo desde menino (Mauad, 2011);
- A menina, a vaca e o avô (Positivo, 2011);
- A palavra, o que é? (Positivo, 2011);
- Palmeiras desde menino (Mauad, 2011);
- O matador de aluguel e outras figuras (Melhoramentos, 2011);
- Neguinho do Rio (Pallas, 2011);
- Corinthians desde menino (Mauad, 2011);
- O homão e o menininho (Editora Abacate, 2010) PNBE Fundamental 2013;
- As roupas do papai foram embora (Ed. Record, 1992; Editora Lê, 2010);
- Fluminense desde menino (Mauad, 2010);
- Pau Brasil (Moderna, 2010) Altamente Recomendável, FNLIJ 2011;
- História de dois lados (Zit, 2010);
- Plantio e colheita (Prumo, 2010);
- Dois dedos de poesia (Global, 2010);
- O peixinho do São Francisco (Agir, 1994; Rovelle, 2010);
- O bravo soldado meu avô (Ed. Antares; 1984; Ediouro, 1995; Rovelle, 2010));
- Vasco desde menino (Mauad, 2010);
- A casa no meio do mato (Prumo, 2009);
- Neguinho aí (Pallas, 2009);
- Botafogo desde menino (Mauad, 2009);
- A fuga do cavalinho vermelho (José Olympio, 1989; Ao Livro Técnico, 2009);
- Ary Barroso (Moderna, 2008);
- Bié e o vôo do pássaro Garrincha (Ao livro técnico, 2008);
- Eu sou eu (Ao livro técnico, 2008);
- Flamengo desde menino (Mauad, 2008);
- Todas as cores do mar (Global Editora, 2007) PNLD Complementar 2013;
- Luiz Gonzaga (Moderna, 2007);
- A cobra coral e outros bichos do bem (Ygarapé, 2007);
- Cantigas de ninar homem (Bertrand Brasil, 2005);
- O mosquito elétrico (Myrrha, 2004);
- Hora do recreio (Antares, 1985; Myrrha, 2004);
- Sem essa de guerra (Ed. Coqueiro, 2003);
- Barbas de molho (Ed. Dimensão, 1998);
- Incrível tribo pénotraseiro (Ao Livro Técnico, 1996);
- A gente precisa conversar (Ed. Lê, 1995);
- A revolta dos dedos (Ao Livro Técnico, 1993);
- O chapéu de quatro pontas (Ao Livro Técnico, 1993);
- História do Bode Zé Pilão (Ao Livro Técnico, 1993);
- Bicho solto (Ed. Do Brasil, 1992);
- Bié e a grande viagem (Ao Livro Técnico, 1992);
- Uma vez uma avó (Editora Lê, 1992);
- Meninos de roça, cantigas de roda (Globo, 1987);
- Bié doente do pé (Ao Livro Técnico, 1987);
- O ritmo da centopéia (Globo, 1986);
- Uma noite a coruja (Antares, 1986).